quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Lady sings the blue


Dias frios fazem com que eu me sinta mais viva.
Mais atenta a cada pedaço de pele aquecida. Do calor que sobe pelos pés sem meias, sob o cobertor pesado e macio.
Das bochechas avermelhadas pelo ar enregelado.
Torno-me cônscia de cada respiração. Por certo graças a coriza constante que resiste ao lenço – mas quem se importa?
Cônscia do meu peito que sobe e desce, interrompido vez ou outra por tosses profundas que reverberam em meus pulmões. E daí? Respiro ainda! Ouço meu inalar e vejo diante de meu rosto o ar que sai de mim, esfriando-se.
Num compasso ofegante e trêmulo ao caminhar aceleradamente, ouvindo o som de meus passos pisando as lajotas lustrosas e úmidas do caminho.
Gosto da luz azulada do céu nublado, das nuvens que descem embranquecendo a visão das janelas.
Lembro de Sherlock Holmes, de mistérios em docas e becos silenciosos, das ruas desertas de Londres guardadas por postes que envelhecem o tempo. Da densidade do cinza escuro e da perspicácia da mente humana.
Lembro de Heathcliff, do ardor da paixão fustigado por golpes de vento gelado, do som metálico do piano que atravessa frestas de janelas e portas para unir-se aos penetrantes uivos de Wuthering Heights.