sábado, 5 de março de 2011

Gavetas




Sempre que estou pra começar algo novo, gosto de parar um momento e arrumar minhas gavetas.

Parar por um momento e organizar as coisas. Pôr cada pensamento, projeto, sentimento, no devido lugar. Jogar algumas coisas fora acaba sendo inevitável. Coisas emboloradas como aquele sabonete que a tia Fulana deu pra dar um cheirinho na gaveta (e agora já empestou o armário todo); coisas que você já tinha esquecido que estavam lá, como o par de meias furadas de lã que você não usa a uns dois invernos; ou até mesmo coisas das quais você não queria se desfazer, mas que não servem mais, estão muito gastas e você no fundo sabe que não pode mais depender delas.

Acredito que todo mundo tenha um hábito parecido, não importa se o chame de introspecção, meditação ou reflexão. Eu arrumo gavetas. Dependendo da intensidade dessa novidade que me impulsiona à ação, às vezes acabo tendo que arrumar as prateleiras, os cabides, o armário todo e, se acabo tirando os livros da estante pra reorganizar, então você pode suspeitar que tenha algo me incomodando muito mesmo.

O importante é revirar tudo. Remexer bem. Espalhar tudo pela escrivaninha, pela cama, pelo chão. Até cansar. Suar. E no final, olhar com orgulho e tranquilidade tudo limpo, perfeito, redondo.

Até o dia seguinte. Aí você vai escolher a roupa com que vai sair de casa e bagunça tudo de novo.