domingo, 29 de março de 2015


Fui embora. De mala e cuia.
Mala grande e cuia pequena (para um matear solitário).
E lembro-me do livro mais depressivo da história: Receitas de micro-ondas para um.
Mala grande, mas minha vida toda cabe no porta-malas do carro.
É uma possível solução para minha angústia de deixar pedaços de mim espalhados por aí (o pai disse que me acostumo).
Mas, ah!, se a embreagem argola.
Daí da vontade de não guardar tanta lembrança. Nem as ruins, nem as boas.
Só é livre quem nada possui.
E homem é no fundo um ser caramujo.
O peso nas costas é duro, mas é a pressão que impõe que marca nossas pegadas no chão e explicita o caminho percorrido. Dando sentido (em todas suas acepções).
Talvez nem todo mundo tenha nascido para ser livre.
Talvez liberdade seja um sentido tão grande em si que não permite nenhum outro.

[21/02/2014]

quinta-feira, 12 de março de 2015


O universo tem um complô contra mim. Não posso usar saias.
É a história dos dias quentes e suadouros que terminam em ventania. Eu tentando carregar as sacolas da padaria, a carteira, o café (balouçante no copo de isopor) e ainda segurar a saia. De que jeito? Só se for me escorando nos muros e nas casas da rua.
Ou dias em que falta luz, e o portão eletrônico emperra, e não se pode entrar em casa sem fazer acrobacias (de saia) pra trepar – com o perdão da ambiguidade – nas grades e de lá pro muro e de lá pro chão. Com um saltinho esvoaçante.
Complô.
A meia-calça rasga.
A cachorrada resolve ser simpática.
O tempo se desfia em brisas repentinas.
E rio e rio sonoramente
Pra não encabular e envermelhecer
enquanto as nuvens se abrem e o sol espia
(como o vizinho entre cortinas)
Complô do universo

Pra botar sorrisos faceiros nos rostos dos rapazes.