quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Litany against fear


I must not fear.
Fear is the mind-killer.
Fear is the little-death that brings total obliteration.
I will face my fear.
I will permit it to pass over me and through me.
And when it has gone past I will turn the inner eye to see its path.
Where the fear has gone there will be nothing.
Only I will remain.

Frank Herbert

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

L'amoureux

je suis l'heureux vaincu
l'aveu pas la faiblesse
je ne suis pas une vertu
le comble de la tendresse
je ne suis ni vrai ni faux
compris dans la question
"je t'aime" en un mot
je suis une affirmation
je suis le tout, pas la partie
l'impossible en partage
la réponse qui demande oui
je suis le maitre du chantage
je suis pour l'autre, sans apostrophes
l'étreinte dans le geste
et tout l'art de la catastrophe
je suis celui qui reste

je suis le moins habile
je suis le plus idiot
le moins chanceux
je suis le plus fragile
celui qui est de trop
l'amoureux

je suis ce qui n'en finit pas de finir
l'avenir des regrets
le choix de ne pas choisir
toujours risquant jamais
je suis l'obscène dans l'inconvenant
l'orgueil d'aucun espoir
la fatigue de l'épuisement
le deuil du verbe avoir
je suis une contradiction
envers et contre tout
sans aucune proportions
mais je suis loin d'être fou
je suis l'abandon dans l'absence
l'adulte encore enfant
la patience d'une impatience
je suis celui qui attend

je suis le moins habile
je suis le plus idiot
le moins chanceux
je suis le plus fragile
celui qui est de trop
l'amoureux

je suis personne a qui parler
je ne suis pas l'indépendant
le refus d'être sauvé
et tout le tremblement
je suis renaitre sans mourir
l'avide dans le besoin
le meilleur craignant le pire
l'un peu du moins que rien
je suis je t'aime parce que je t'aime
l'oubli qu'on doit survivre
je suis le vide de moi même
l'exemple a ne pas suivre
je suis mesquin et narcissique
un masque de discrétion
je ne suis pas héroïque
je suis celui qui dit "recommençons"

je suis le moins habile
je suis le plus idiot
le moins chanceux
je suis le plus fragile
celui qui est de trop
l'amoureux


Volo - Sans Rire (2013)

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Uma vida fugindo dos Mr. Collins's, sonhando com um Mr. Darcy, para um dia me dar conta - de repente, não mais que de repente - que só consegui Wickham's e Willoughby's.

Sábia é aquela que não se apaixona pelos personagens de Jane Austen.

sábado, 28 de setembro de 2013


Não sei ser triste a valer
Nem ser alegre deveras.
Acreditem: não sei ser.
Serão as almas sinceras
Assim também, sem saber?
Ah, ante a ficção da alma
E a mentira da emoção,
Com que prazer me dá calma
Ver uma flor sem razão
Florir sem ter coração!
Mas enfim não há diferença.
Se a flor flore sem querer,
Sem querer a gente pensa.
O que nela é florescer
Em nós é ter consciência.
Depois, a nós como a ela,
Quando o Fado a faz passar,
Surgem as patas dos deuses
E a ambos nos vêm calcar.
Está bem, enquanto não vêm
Vamos florir ou pensar.

Fernando Pessoa

sábado, 3 de agosto de 2013



Eu cortei o cabelo. Pintei as unhas de vermelho. Pus a bota de salto que nem sabia que ainda tinha, os brincos que você elogiou um dia e minha saia preta de cintura alta e com bolsos. Pus o avental bem na altura do umbigo, me servi meio copo de vinho. Piquei batatas e cebolas. Coloquei um CD que meu melhor amigo me deu. Dancei diante da pia da cozinha. Tive vontade de chorar. Troquei de CD. Considerei ligar pra alguém. Decidi verificar as batatas no forno. Acabou o azeite de oliva. Também não tem mais azeitonas. Eu deveria sair. Comi em pé na frente do balcão. No final todos morremos sozinhos. Perceber isso pode causar um tremendo vazio, pode nos libertar, ou pode acabar sendo completamente insignificante. Tenho a impressão que isso tem muito a ver com o CD que se decide por pra tocar.

sábado, 11 de maio de 2013

Cena



A maçã vermelha caiu
Rolou pelo meio das pernas de todas as pessoas à direta do ônibus
Morro acima o ônibus, ônibus abaixo a maçã.
O senhor colocou o rosto por baixo do banco e catou a sacola da feira.
A maçã vermelha voltou
Passou de mão em mão por todas as pessoas à direita do ônibus
Vermelha de vergonha – pensei
Sorri.

terça-feira, 2 de abril de 2013

A princesa e a ervilha (na cama Box)



Fazia alguns meses que dormia no chão – bem, não no chão, só no colchão no chão. Sem suporte ou cama. Durante a noite, dormia. Durante o dia, encostava-o entre parede e armário e tinha um vazio à minha disposição. Uma concepção bem zen de arranjo mobiliar.
Mas não somos verdadeiramente zen aqui em casa e como descendo da grande linhagem de matronas conjuradoras da friagem, meu estilo de vida minimalista não durou muito tempo. Compraram-me uma cama.
Uma cama bem alta, mais alta que minha antiga (quando tinha uma), e muito mais alta que a distância do colchão ao chão. Eu sinceramente fiquei preocupada em rolar e cair da cama na primeira noite – acabando com a ingênua pretensão de parecer sensível e bela como a belle au bois dormant ou a princesa da história da ervilha.
Além de todas as crises emocionais fajutas de se comprar uma cama nova logo após o término de um relacionamento, eu fiquei divagando.
Pensei em Virginia Wolf, na mulher que quer escrever e que precisa de um quarto só seu. Olhei pra minha nova (e alta) cama, só minha. Mas espaçosa e propícia pra saudade.
[Não, isso já é tolice minha, pois todo e qualquer lugar é propício para a saudade.]
No fundo são todas metáforas espaciais para a necessidade de se achar um lugar seguro para aquilo que é seu, e seu apenas – mesmo que este lugar seja entre a parede e o armário ou no vazio do quarto sem cama. Para quem se é – no chão ou na cama Box.
Só que é sempre difícil achar um lugar seu, mesmo na própria cama, se ficamos presos ao modo como nos olham ou olhavam enquanto dormíamos.
Para mim, isso significa parar de procurar ervilhas e lembranças entre as dobras do colchão. Este ainda sem marcas, inclusive minhas. As únicas de que precisa (e preciso) no momento.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Pra recuperar a poesia



que pode ser feita de tudo, mas que anda calada e tímida
do tanto que venho sentindo.
Foi o Thomas da metafísica quem me disse
Só consegue escrever quem não sente tão intensamente
Tenho sentido falta e plenitude
Tristeza de cansaço
Felicidade de embriagado
Medo nem sei se está aí no meio.
Quero voltar aos tons e sons (minhas metáforas mais batidas)
Quero até rimas, que sempre fiz pobres
Quero escrever, recuperar a poesia
Reavivar o fogo pra não morrer seca
Pra não morrer já
Pra falar mais um pouco
Sobre cores e palavras (meus temas mais sofridos)
E sobre o que sou e sinto -
alas! Os verbos de ligação em língua estrangeira!
Pra aprender a sentir a vida comme il faut
Intensidade não exposta, não contida.
Só o necessário pra poesia:
o pulsar