Fazia
alguns meses que dormia no chão – bem, não no chão, só no colchão no chão. Sem
suporte ou cama. Durante a noite, dormia. Durante o dia, encostava-o entre
parede e armário e tinha um vazio à minha disposição. Uma concepção
bem zen de arranjo mobiliar.
Mas
não somos verdadeiramente zen aqui em
casa e como descendo da grande linhagem de matronas conjuradoras da friagem,
meu estilo de vida minimalista não durou muito tempo. Compraram-me uma cama.
Uma
cama bem alta, mais alta que minha antiga (quando tinha uma), e muito mais
alta que a distância do colchão ao chão. Eu sinceramente fiquei preocupada em
rolar e cair da cama na primeira noite – acabando com a ingênua
pretensão de parecer sensível e bela como a belle
au bois dormant ou a princesa da história da ervilha.
Além
de todas as crises emocionais fajutas de se comprar uma cama nova logo após o
término de um relacionamento, eu fiquei divagando.
Pensei
em Virginia Wolf, na mulher que quer escrever e que precisa de um quarto só seu.
Olhei pra minha nova (e alta) cama, só minha. Mas espaçosa e propícia pra
saudade.
[Não,
isso já é tolice minha, pois todo e qualquer lugar é propício para a saudade.]
No fundo são todas metáforas espaciais para a necessidade de se achar um lugar seguro para aquilo que é seu, e seu apenas – mesmo que este lugar seja entre a parede e o armário ou no vazio do quarto sem cama. Para quem se é – no chão ou na cama Box.
No fundo são todas metáforas espaciais para a necessidade de se achar um lugar seguro para aquilo que é seu, e seu apenas – mesmo que este lugar seja entre a parede e o armário ou no vazio do quarto sem cama. Para quem se é – no chão ou na cama Box.
Só
que é sempre difícil achar um lugar seu, mesmo na própria cama, se ficamos
presos ao modo como nos olham ou olhavam enquanto dormíamos.
Para
mim, isso significa parar de procurar ervilhas e lembranças entre as dobras do
colchão. Este ainda sem marcas, inclusive minhas. As únicas de que precisa (e
preciso) no momento.