domingo, 30 de agosto de 2009

Domingo de manhã



Tempo fresco, céu limpo, sol radiante e...
“Engata a quarta! Não, não! Muito rápido. Diminui a velocidade antes... Acelera! Vai deixar o carro morrer! Rápido demais! A máxima é 60km/h mas não significa que você não possa ir mais devagar!”.
Meu pai, segurando-se no banco do carona e fazendo o movimento de freiar com o pé antes de cada curva, pacientemente me guia pela estrada...
Estamos indo para o sítio da minha tia-avó... Quase uma little Scotland em Rancho Miguel, coração de Antônio Carlos/SC.
Claro que sem kilts, highlanders ou o Mel Gibson.
Chegaram todos vivos, não se preocupem. E minha tia, ao contrário do que possa ter parecido acima, disse-me que me sai muito bem!
Quanto ao sítio, é uma casa antiga, em estilo colonial, com um jardim em flor e uma grande árvore (acácia mimosa) que faz sombra em uma parte da taipa, a mureta de pedra que cerca o quintal.
Há na frente do portal de ferro, incrustado nas pedras, uma treliça em forma de portal no qual se entrelaça um pé de bougainville rosado.
Além do cercado, verde. Everywhere I turn “I’m staring out at endless rows of green”… Rochas acinzentadas surgem em meio aos montes gramados e às árvores, cujos galhos, ainda ressequidos, esperam pela primavera.
Dentre o que já floresceu: rosas, copos-de-leite, camélias, véus-de-noiva; de tudo um cheiro doce permeia o ar, ameno. Enquanto da cozinha vem um odor quente, salgado, acompanhado pelo ruído de panelas e colheres.
Ao lado da cozinha, uma horta. E para lá da horta, um açude com uma roda d’água no qual nadam cisnes, patos e gansos.
Uma história engraçadinha: certa vez, uma galinha chocou ovos de pata. Quando os patinhos cresceram um pouco, aventuraram-se no açude e, a mãe-galinha, desesperada, batia asas às margens... Incapaz de segui-los.
Sentada à sombra da acácia, ouço um tropel. A égua de pelagem castanha vem descendo. Achega-se a mim e suas crinas enroladas me recordam de velhas histórias sobre feiticeiras que, em noites de lua cheia, sufocavam cavalos entrançando suas crinas ao redor dos pescoços.
Logo o sol se vai.
A temperatura cai.
Ouço a conversa à mesa de café abafada pela música que toca no rádio da sala.
A lua crescente, brilhante, no céu que escurece.
O cheiro fresco de cânfora nos braços ardidos com picadas de mosquitos me deu um pouco de dor de cabeça... Nada é perfeito, não é?

sábado, 29 de agosto de 2009

Rue des cascades

“When I’m asleep in Cascade Street I don’t… See anything
When I’m asleep in Cascade Street I hear… Nothing
When I wake up in Cascade Street I feel… Nothing
When I’m asleep in Cascade Street I don’t… Remember
In the cascade… You washed me”

Yann Tiersen
De fato, existe alguma beleza na incerteza... Algo relacionado a uma potencialidade infinita...
Ainda assim, detesto não saber para onde vou... Mesmo considerando a idéia de flânerie muito charmosa.
E apesar de acreditar que todas as definições são tentativas vãs de dar um sentido coerente a algo em si e por si mesmo contraditório e irredutível, creio ser mais ou menos isso o que farei aqui. Pois nós sempre estamos, de algum modo, nas palavras que pronunciamos.