sábado, 3 de abril de 2010

Stress, stress, stress...


Sempre que vamos sair para uma viagem de carro em família minha mãe dá um jeito de ficar irritada com algo: ou estamos demorando em nos arrumar, ou ela se mete em uma discussão sobre a rota de viagem ou a disposição das malas no bagageiro com o meu pai, ou acha inconcebível que alguém não queira ir para onde ela quer ir, não sei! Acho que há alguma satisfação inconsciente em estar insatisfeita com algo...
Ultimamente um ponto-chave desta insatisfação é meu desempenho guiando o carro.
Existem coisas, certas habilidades, que você só adquire com a prática contínua.
Tricô, por exemplo, ou andar de bicicleta.
Acho que aprender a dirigir também se enquadra nesse grupo e minha mãe, desde que tenho carteira de motorista, justifica com isso o fato de não deixar que eu dirija o carro da família. Diz que a auto-escola não dá experiência e destreza suficiente.
Eu não nego a lógica dessa explicação, mas convenhamos que utilizar sempre essa desculpa só faz cair num ciclo sem fim: se não dirijo, não ganho experiência, cuja ausência é aquilo que me impede de dirigir.
Em suma, o desabafo deste texto em específico é minha indignação perante a confusão dos meus pais entre a minha confiança (aleluia, sou confiante com algo!) e imprudência.
Claro que o fato de eu ter sempre me mostrado uma pessoa prudente, pendendo às vezes para a insegurança mesmo, pode tornar implausível ou frágil diante deles essa segurança que já tenho com o volante (conquistada com algumas poucas oportunidades de viagens para visitar minha avó em outra cidade, em algumas das quais eu dirigi por rodovias federais e estaduais, inclusive com grande movimentação e em condições de chuva forte!).
Mas vamos direto à cena: estávamos na BR101, eu ia guiando enquanto minha mãe ia sentada – e remexendo-se – no banco de trás.
“Isadora, vai mais devagar!”
“Mãe, estou a 80 por hora...”
“Isadora, ultrapassa, mas já pega a pista da direita!”
“Mãe, eu já estou na pista da direita...”
Um pequeno adendo... Estávamos indo para Criciúma, e sempre nos perdemos quando vamos para Criciúma... Sempre, e o calor insuportável mais a característica (naquele momento inadequadamente irritante e desconcentrante) da minha mãe sussurrar enquanto dava as indicações e de gritar quando eu não as ouvia, nos traz à crise do retorno:
“Mãe, pego essa entrada?”
“Não, acho que é mais pra frente... [Passando por uma placa da próxima cidade] Não, acho que aquela era a entrada... Acho que a gente já passou a entrada...”
Pois então, passamos direto pela entrada.
“Pega o primeiro retorno que você encontrar”
Okay, atenta por uma placa laranja de retorno!
Outro pequeno adendo... Sinalização de retorno em cima de uma curva não é algo muito visível.
Eu dou de cara com o retorno, entro nele rapidamente diminuindo a marcha numa curva sem deixar o carro morrer ou correr para trás – U-A-U, reflexos dignos do Bruce Willis, em minha opinião – mas dou de cara² com o semblante estou-gritando-por-dentro-mas-rindo-de-nervosa da minha mãe pelo retrovisor.
Aí ela já ficou ansiosa, usou aquele timbre soprano-que-está-gritando-com-você-num-momento-errado, eu volto para a BR enganada, tenho de retornar para o outro retorno de novo...
Ahhhh!
[Bem-vindos à Criciúma]
Muito bem, estamos vivos e estamos no perímetro urbano da cidade onde deveríamos estar. Agora o pesadelo de encontrar o trabalho do meu pai.
Little question: Se das duas ou três vezes que entramos pelo lugar certo da cidade não o encontramos, quais as chances de encontrar o caminho depois de ter entrado pelo lugar errado?
Aparentemente todas: minha mãe reconhece o cafundó no qual nos embrenhamos e enxerga uma placa minúscula que indica o lugar.
Estrada de chão (obviamente minha mãe reclama da velocidade – e se vocês querem mesmo saber eu estava a 30 km/h em 2ª marcha!) e eu morrendo de medo de atropelar algum nos integrantes de uma pequena procissão de sexta-feira santa que seguia no lado contrário da via, vindo em nossa direção.
Ninguém saiu ferido e eu ainda estacionei o carro perto de um laguinho sem deixar que ele caísse no laguinho.
Ufa!
Tudo bem, não nego minha parcela de culpa por não ter entendido que a segunda placa de retorno era a continuação do retorno que eu queria pegar desde o começo!
Ainda sim, duas coisas me consolam:
1° Essa foi mais uma experiência (e sim, uma experiência positiva) para cortar o argumento da minha mãe sobre a minha falta de prática;
2° Ela também teria se perdido se estivesse dirigindo...
Touché

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